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Posted 12 Jul 2015 por Luis Dufaur

A encíclica Laudato Si aponta contra os ricos a propriedade privada e as soberanias nacionais diz Rosenfield

A encíclica Laudato Si' aponta contra os ricos, a propriedade privada
e a soberania nacional, diz Rosenfield

 

O professor e articulista Denis Lerrer Rosenfield teceu atualizados comentários sobre a encíclicaLaudato Si’, do papa Francisco, dedicada a questões ambientais.

O prof. Rosenfield tem-se posicionado contra a interferência do Estado na vida dos cidadãos. Porém, lendo a encíclica chegou à conclusão que essa abre o caminho para um intervencionismo ainda maior.

Um intervencionismo planetário que desconhece as soberanias nacionais. E a fortiori, a do Brasil. E estabelece uma espécie de ditadura universal como até agora nunca se tentou.

Utopia com tonalidades religiosas, cujo Evangelho se encontraria nas pregações subversivas indigenistas, e teria nas ONGs e nos 'movimentos sociais' os agentes de uma nova KGB verde sob as bênçãos de uma Igreja também ‘nova’ que não mais cultua Jesus Cristo, mas a Mãe Terra.

Reproduzimos a continuação excertos do artigo “O papa e a Amazônia” publicado no O Estado de S. Paulo, 29.06.15.

 

O papa e a Amazônia


O papa critica fortemente as grandes empresas internacionais que estariam preocupadas só em saquear os recursos naturais de regiões de grande biodiversidade como a Amazônia, a bacia do Congo e os grandes lençóis freáticos e glaciares. Aliás, são as três únicas regiões do mundo referidas no documento.

 

 Denis Lerrer Rosenfield 01

Denis Lerrer Rosenfield,
professor de Filosofia na UFRGS


Nesse sentido, ele seria contra a “internacionalização” política dessas áreas do planeta. Aparentemente, ele seria contra a internacionalização da Amazônia, entendida como uma forma de dominação de grandes empresas e dos países mais desenvolvidos.

A imprensa nacional tomou essa formulação pelo valor de face, ressaltando o fato de o Santo Padre defender a soberania nacional, no caso brasileiro, da Amazônia. 

Logo, o Brasil não teria com o que se preocupar. 

Uma leitura atenta do documento, contudo, permite desvelar outra concepção. 

A Amazônia, mais especificamente, é considerada um dos grandes pulmões do planeta. É vital para o conjunto da Terra, enquanto Criação divina, e para o futuro da humanidade.

Ou seja, ela não pode ficar à mercê dos grandes “interesses econômicos internacionais” — nem, poderíamos acrescentar, da soberania do Brasil, pois ela é, na verdade, um patrimônio internacional, da humanidade, uma obra-mestra da Criação, foi Deus o seu artífice. 

Atentar contra a Amazônia significaria atentar contra um pulmão do mundo, talvez o mais importante, e, teologicamente, contra a Criação. 

Isto é, moral e religiosamente o Brasil se veria destituído de soberania sobre essa porção de seu território.

Em linguagem papal, “torna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a protecção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecno-económico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça” (a ortografia é de português de Portugal).

 

Indios ONG teologia da liberação entre outros seriam os agentes preferidos do governo mundial verde auspiciado por Francisco 1

Índios, ONG, teologia da liberação entre outros seriam os agentes preferidos
do governo mundial verde auspiciado pela nova religião universal.


novo sistemanormativo, moralmente fundado,passaria a ser exercido por organismos internacionais e ONGs nacionais e internacionais, ambientalistas e indigenistas, que passariam a ditar o que pode ou não ser feito neste enorme território nacional. 

decisão última seria transferida do Estado nacional para elas, contando, internamente, com a participação ativa — e decisiva — da CNBB e de seus órgãos, como a CPT e a Cimi. 

Ou seja, um país como o Brasil poderia perder “religiosamente”, “moralmente”, “ecologicamente” e “socialmente” a Amazônia, que passaria a ser controlada por essa nova espécie de poder. 

A construção da Usina de Belo Monte e outras na Amazônia se tornariam inviáveis. 

Na perspectiva papal, os interlocutores privilegiados seriam os indígenas e, principalmente, seus porta-vozes de ONGs e movimentos sociais, pois deveria caber essencialmente às “populações aborígines” o cuidado da “Casa Comum”. 

Não poderia um país decidir o que fazer com o pulmão do mundo, que seria, moralmente e religiosamente, propriedade de todos os membros do planeta, da Obra divina. 

O Brasil deveria, realmente, abdicar de sua soberania. 

Seguindo a linha dos movimentos sociais, centra sua crítica no agronegócio em geral, principalmente na monocultura e nas empresas proprietárias de grandes extensões de terra. 

Seu elogio reside no acolhimento da agricultura familiar, da pequena propriedade e das populações aborígenes. 

O “clamor da natureza” se identificaria com o “clamor dos pobres”

Salientem-se igualmente suas constantes investidas contra o “lucro” e o “egoísmo”.

Sua concepção está baseada numa relativização da propriedade privada.

 

130729 JMJ 113 recepción con índios

No Rio, durante a JMJ 2013. As ONGs ambientalistas e indigenistas
serão erigidas em novo poder mundial com o beneplácito da Igreja

 

Há, portanto, nesse documento uma confluência de questões ambientais, religiosas, morais e sociais, fazendo dos porta-vozes dos pobres e de questões ambientais os verdadeiros representantes de uma nova humanidade a ser construída.

As ONGs ambientalistas e indigenistas são, então, erigidas em novo poder mundial — entendido como se fosse uma espécie de poder moral. 

Elas se estariam tornando uma espécie de novo Evangelho, como se suas concepções pudessem ser, de certa maneira, identificadas como uma nova forma de religiosidade universal. 

Isso é, elas passariam a ser um tipo de poder supranacional que contaria com o beneplácito da Igreja, que as sustentaria nas críticas que recebem dos países onde operam.

Os movimentos sociais de esquerda e as ONGs ambientalistas e indigenistas nacionais e internacionais seriam, nessa perspectiva, não apenas os representantes dessa nova humanidade, mas os interlocutores privilegiados do mundo político em escala planetária. 

Teríamos, aqui, uma nova forma de poder político, tido por moral em sua essência, que não poderia ser limitado por nenhuma forma de poder nacional.

 

Habemus papam ecologistum

 

Evaristo Eduardo de Miranda 04

Evaristo E. de Miranda é Pesquisador da Embrapa,
doutor em ecologia, diretor do Instituto Ciência e Fé.

 

A encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, emprega 74 vezes a palavra “natureza”, 55 vezes “meio ambiente” e uma só vez a expressão “Jesus Cristo”, aquela que designa a segunda pessoa da Santíssima Trindade. 

Já o mestre galileu, não divinizado, chamado apenas de Jesus, aparece 22 vezes, o mesmo número de citações do termo “tecnologia” e menos de metade da “ciência”, evocada 55 vezes. Contudo, a Academia Pontifícia de Ciências, com mais de uma dezena de prêmios Nobel, parece não ter contribuído muito e não é evocada. A palavra democracia não existe no texto.

A encíclica é densa. Merece leitura, estudo e reflexão. Nela, a questão ecológica é abordada, não apenas em sua dimensão “natural” stricto sensu. O documento aborda seu contexto humano, social, político, religioso e cultural.

O texto não é dirigido apenas a bispos e católicos. Fato raríssimo, o Papa fala na primeira pessoa do singular. Ele deixa de lado o “Nós”, o plural majestático, característico de pronunciamentos pontifícios.

Ele se dirige aos crentes (judeus, muçulmanos...) e aos não crentes. Para falar à humanidade, o Papa evoca a responsabilidade de todos em gerir a terra como a nossa casa comum. Ele defende um crescimento econômico com temperança e sobriedade, fundado na mudança de comportamentos.

 

Novos “ismos”


A encíclica não usa uma única vez as palavras capitalismo e socialismo. Apenas ao evocar a história, menciona o nazismo e o comunismo. Já alguns “ismos”, de natureza eminentemente comportamental, são de uso amplo no texto: consumismo, individualismo, relativismo, antropocentrismo, realismo, condicionalismo e ceticismo.

A encíclica repercutiu positivamente na mídia. O dever jornalístico levou a muitos artigos e editoriais com pretensão de resumir o documento. Tarefa difícil. Outros ainda fizeram e fazem leituras seletivas do documento para sustentar, justificar ou ampliar suas teses tradicionais. Tem gente que não leu e gostou. Outros não leram e não gostaram. Sobre um documento que coloca muitos questionamentos, cabem algumas questões pouco lembradas.

Ciente da complexidade do tema abordado, o Papa Francisco reitera:

“Há discussões sobre problemas relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso. Repito uma vez mais que a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum.” (188).

Pode-se indagar: os homens e as sociedades podem ser geridos por consenso? Existe alguma nação funcionando por consenso? Quais ideologias lesam o bem comum? Quem pode identificá-las? Qual a diferença entre necessidades (termo da encíclica) e interesses (termo na mídia) particulares na temática ambiental?

Faltou equilíbrio à encíclica

Faltou equilíbrio à encíclica.

 

A geografia da poluição


O balanço ecológico do progresso planetário, logo no primeiro capítulo, é negativo, pessimista e pouco equilibrado. Ele fala de poluição generalizada provocando milhares de mortes prematuras. 

Contudo, mais generalizado ainda foi o aumento da esperança de vida e da educação em todo o planeta, acompanhando o crescimento industrial e a tecnificação da agricultura. Nunca se viveu tanto, nunca se comeu tanto, nunca se estudou e se votou tanto em todo o planeta, como atualmente.

Os problemas de poluição não existiam nas sociedades pré-históricas. Se eles são constantes e concomitantes ao desenvolvimento, também foram e são resolvidos pelos avanços da ciência e da tecnologia. 

Na linha dessa preocupação pontifícia, por que a exportação de indústrias poluidoras para países periféricos, como parte da estratégia de limpeza ambiental praticada há décadas em nações desenvolvidas, não foi lembrada?

Conversando com idosos

“Em muitos lugares do planeta, os idosos recordam com saudade as paisagens de outrora, que agora veem submersas de lixo.”(21).

Essa afirmação parece um pouco reducionista quando consideradas as condições insalubres nas quais se vivia até o começo do século XX na Europa e nas quais ainda vive grande parte da população mundial.

Não há razão para não se investir numa gestão mais eficiente dos resíduos e na redução de sua produção, mas as paisagens de outrora, mesmo na Europa, sem drenagem ou barragens, eram marcadas por enchentes, epidemias, doenças crônicas, períodos de fome, com pessoas subnutridas em habitatsinsalubres, sem aquecimento ou energia elétrica.

A memória desses idosos deve lembrar o que era a vida cotidiana em tais paisagens, sobretudo no inverno ou em tempos de seca. Seus filhos são mais altos e já perdem em estatura para seus netos, graças à nutrição adequada, como ocorre agora em muitos países em desenvolvimento.

 

Progresso e tecnologia


As sociedades economicamente desenvolvidas têm os meios para cuidar de sua biodiversidade, para reduzir a poluição da terra e do ar, para proteger e manter limpos os seus mares e rios. Elas universalizaram o saneamento básico com tecnologias avançadas de gestão de efluentes, incomparáveis às utilizadas em estações de tratamento de esgoto do Brasil, por exemplo.

Nos países ricos, o ciclo de vida das mercadorias é planejado; o lixo é classificado, tratado e reciclado;muitos ecossistemas estão preservados e são desfrutados por uma população com amplas garantias sociais e com acesso a uma intensa vida cultural.

 

A encíclica não faz justiça à segurança alimentar conquistada por recordes de produção Mercado Central SP

A encíclica não faz justiça à segurança alimentar conquistada por recordes de produção.
Mercado Central SP

 

Ao associar o uso de insumos modernos na agricultura apenas a seus possíveis efeitos tóxicos, a encíclica não faz justiça à segurança alimentarconquistada por recordes de produção. Nem aos ganhos de qualidade nutritiva e sanitária, e à queda no preço dos alimentos que esses mesmos insumos, frutos de ciência e tecnologia, permitiram obter beneficiando, sobretudo, os mais pobres. 

Unilaterais, os oráculos consultados pelo Papa, não tiveram aqui e alhures o justo equilíbrio. 

“Para os países pobres, as prioridades devem ser a erradicação da miséria e o desenvolvimento social dos seus habitantes” (172), diz o Papa. Como atingir esses objetivos sem crescimento econômico e novas técnicas e tecnologias? Por consenso?

O Papa Paulo VI já evocara o tema ambiental, em 1971, na Pacem in terris. João Paulo II foi o primeiro a convidar para uma conversão ecológica, apesar da mídia tratar a ideia como novidade da Laudato Sí. Ele o fez em 2002, ao assinar com o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, uma declaração comum pela salvaguarda da Criação, em Veneza.

Bento XVI tratou de ecologia ao longo de todo o pontificado. Na Caritas in Veritate (2009), ele dizia: “Quando a Igreja Católica toma a defesa da Criação, obra de Deus, ela não deve apenas defender a terra, a água e o ar (...) mas também proteger o homem contra sua própria destruição”.

Sob seu pontificado, o menor Estado do planeta tornou-se neutro em emissão de carbono e adotou metas ambientais ambiciosas. Não há indústria poluidora em seus 44 ha (só faltava!). O papamóvel foi transformado em veículo flex. Painéis solares fornecem energia para a sala de audiências ao lado da Basílica de S. Pedro. Bento XVI também plantou uma floresta de 7.000 ha na Hungria, destinada a compensar as emissões de gases de efeito estufa do Vaticano. 

Se o Papa Francisco pode dirigir injunções ambientais aos outros países é porque também, de certa forma, o Vaticano fez sua lição de casa.

 

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